Estou a rever alguns episódios da série "O príncipe de Bel Air" a qual, como muitos se devem recordar, foi a rampa de lançamento da carreira de Will Smith na década de 90. A história relata a ida do pobre rapaz Will, que cresceu no getto (interpretado por Will) para a mansão do tio juiz e rico. Na mansão a vida decorre com todos os clichés que o pobre julga ser a vida de rico: têm um mordomo trajado com fraque que fala com pronúncia esquisita, mantém uma postura altiva, usa luvas brancas e é supostamente culto. Os tios ricos praticam bridge, frequentam o clube, são influentes e respeitáveis membros da sociedade. O que isto tem de interesse ou novidade? Nada. O detalhe da série e a razão pela qual a mesma foi feita é este: esta família é negra.
Ao longo dos episódios com bom humor e algumas boas tiradas, observam-se porém uma fraqueza de enredo tremenda mas, o que a meu ver parece aborrecido é que a série não é inovadora em nada. Ela propaga os clichés e continua a repetir ancestrais noções racistas, ao imitar e perpectuar as mesmas.
Esta série continuou a reforçar clichés de diferenças entre cores de pele |
Bom, mas lembro sempre de uma série feita muito antes desta que essa sim, era maravilhosa e ainda hoje considero-a intemporal: "All in the Family", que deu origem a outras como os "Jefersons". Esta sim, uma série séria, real, verdadeira que abordou o tema do racismo no tempo em que ele ainda decorria muito mais vincado na sociedade americana. E nesta série, o racismo não ficou pelas duas cores: preto e branco. O racismo e o preconceito foi elaborado, esmiúçado, revelado. O "racista" do programa, Archie, o chefe de família com origem na classe baixa operária, teve de começar a trabalhar cedo em criança para ajudar a família e teve de abandonar os estudos, é preconceituoso e racista. E tem um genro do qual supostamente não gosta por ter ascendência estrangeira e uma filha progressistas, muito modernos e activistas das causas sociais. Ele não gosta, mas os sustenta. E à medida que avançamos na história percebe-se que estes seus preconceitos e atitudes racistas são mais criações culturais do que sentimentais. Percebe-se, até, que os liberais dos jovens têm momentos em que acabam por ter algum preconceito. Percebe-se que tanto existe preconceito e racismo de um lado, quanto do outro. E temos aquelas mulheres, sensatas, subalternas quase no seu papel de domésticas, mas umas grandes lutadoras que mantêm a harmonia do lar e a lucidez nos momentos de confusão.
Os Jefersons foi uma série norte-americana sobre o quotidiano de uma família negra em ascensão social |
"The Fresh Prince" aposta forte e feio na capacidade humorística de Will Smith, deixando os restantes algo secundários. Tanto assim foi que... o que é feito deles? Eu em particular, tinha uma simpatia grande pelo actor que fez de Carlton. Achei-o visivelmente talentoso e com muito bom timming para comédia. A primeira "tia" também tinha bom timming, percebo-o agora. É um dos problemas das séries estreladas: outros podem ficar na sombra. Mesmo quando já têm carreira e reputação construída. Mas isso é como em tudo... uma carinha laroca e jeito solto agrada muito o público e depois os estúdios fazem as suas estrelas. Will tem talento. Isso ficou visível de imediato na série, mas outros também o tinham...
Ainda que pela parte do tema do racismo seja catastrófica por perpectuar clichés e humilhar a raça inversa à protagonista, a série vê-se com deleite. Entre situações clichés uma ou outra tirada muito bem dada faz rir com gosto e algumas personagens são realmente cómicas.