E pela boca morre o peixe!
Uma das coisas que muito me incomodava neste mundo do espectáculo era perceber o desdém que os artistas actores tinham pela televisão. Nós, público, ficavamos a conhecê-los por um papel numa novela e depois liamos numa entrevista que "aquilo foi uma vez para experimentar", que a televisão é um meio "menor para o actor exercer o seu ofício", que a verdadeira representação "é no teatro" e que o cinema "é nobre". Parecia-nos que os actores começavam a fazer novela aliciados por um salario elevado e assim, vendidos à melhor oferta, lá faziam o "frete" de interpretar uma personagem em televisão. Mas não gostavam, queixavam-se, lamentavam-se e iam para as entrevistas elogiar o teatro.
Ora, pela boca morre o peixe! Se antes o desprezo pela TV era notado, hoje pode até continuar, mas perpectuando a sina do artista ao longo dos séculos, se não se quer morrer de fome, trabalha-se em tudo um pouco!
Muita coisa mudou desde então e agora vemos o contrário. Uma migração em massa de artistas que querem um lugar ao sol em televisão. Este veiculo que a mim cedo me fascinou, tão repudiado que foi por artistas mas não só, porque também algum público se deixou levar por essa "arrogância de valores" não admitindo ver novelas, só telejornais mas não perdiam pitada, é agora o mais concorrido, o "rebuçado" mais desejado. Porque é na TV, um veículo para as massas, que está o sustento, uma estabilidade que não existe em nenhum outro lugar.
Um salário fixo, trabalho garantido por vários meses e, com sorte, aquilo que muitos actores ainda hoje torciam o nariz: um contrato de exclusividade. Algo que lhes dá um ordenado mesmo não estando a trabalhar. Que sonho, não?
E agora é vê-los, um pouco a rondar o prato onde cuspiram, a tentarem serem vistos, notados, convidados...
Nesta equação toda tem de entrar a idade. Enquanto se é jovem ainda se acredita que outros meios se abrem e até deve ser verdade. Mas com o avançar da idade, a falta de propostas e de papéis em televisão para pessoas mais velhas, é vê-los a todos, mendigar ou não, utilizando os recursos que tiverem, à procura de um melhor lugar ao sol, porque disso se trata: todos queremos um bom lugar ao sol...
Abri uma revista e lá vinha José Raposo, que a meu ver não se pode queixar da televisão porque lhe identificamos uma longa carreira nela, a queixar-se com um azedume que não há papéis para ele. Ora, não acabou ele de fazer uma novela, não está para entrar noutra e nos entretantos de pois de tanto refilar, já não obteve também uma participação especial na novela actual? Três novelas consecutivas não lhe chegam? Queixa-se exactamente do quê? Pessoalmente esta sua atitude surpreendeu-me porque numa entrevista TELEVISIVA, refira-se, feita há uns anos, pareceu um homem compreensivo e de mentalidade aberta e para quem acabou de casar com uma jovem miuda de 21 anos, esperava-se uma abertura para a vida diferente e eis que, afinal, a idade chega para todos, por mais jovem que tentem manter o espírito, e aquele azedume e revolta que, a meu ver, nele não tem grandes fundamentos, estão lá. Nada oculta a idade...
E onde está o José Raposo, está a ex-mulher, Maria João Abreu, também actriz, também em busca de um lugar ao sol e a tentar que lhe calhe a segurança da exclusividade televisiva. Também ela esteve na novela onde o ex esteve (num papel miserável que não soube enobrecer), fez uma peça de teatro entretanto e voltou para a novela actual com uma mini-participação, novamente, que não aqueceu nem arrefeceu. Nela noto que procura estar sempre com projectos porque parar é morrer... mas cá está: não se podem queixar do que têm encontrado na TV.
Existe MILHARES de actores neste pequeno portugal e existem MILHARES a querer ser actores. Não discuto talento, porque acho que isso é relativo. Tanto me agrada um em bruto, como me desagrada um consagrado. Nem sempre experiência é tudo, nem sempre inexperiência é mau. Mas a verdade é que a TELEVISÃO, ao "crescer" e ao conquistar, tal como me conquistou a mim em criança, as novas gerações e a tornar-se uma ambição para as mais envelhecidas, está a movimentar muita gente mas a oferta é pouca para a quantidade que a procura. Em si a TV nunca empregou tanta gente como nos últimos anos. A produção nacional a crescer, com canais públicos e privados com produção nacional, isso é um oásis para os actores que, de outra forma, teriam de viver de teatro e revista. Não que estes não sejam bons mas convinhamos que o hábito não é praticado por uma massa como aquela que fica em casa a ver TV. A TV é de todos os dias, os outros são "luxos" ocasionais, de uma vez por ano ou de 5 em 5 anos... e não porque não se goste mas porque não existe o hábito e porque não existe um culto ou mesmo uma ZONA artística afamada, que faça com que o culto surja. Por exemplo: em Londres, passear pelo meio da cidade é logo dar de caras com inumeros cartazes de peças teatrais com os rostos dos mais famosos, tudo ali ao lado de casa e sem grandes conflictos. É como entrar numa loja de roupa... é acessível.
Mas também os tempos aureos da TV já lá vão. Esta crise afecta todos e aqueles contratos de exclusividade pagos a preço de ouro por artistas que ganharam fama e nem sempre são assim tão agradáveis de ver (isto são gostos descutíveis mas penso que até os melhores algumas vezes não entregam nada) de algum modo terminou e quem aproveitou, fez bem! Quem está agora a procurar o mesmo, olhe, viesse mais cedo!
Mas nunca se sabe. Água mole em pedra dura... bate, bate que fura!
Ah, eu não gosto de televisão e tal, o Teatro e o Cinema isso é que é!
Postado por
Fã da TV e Cine
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